Carnaval bom é na minha época
Seria um revival de início de século passado: voltávamos de um período de tristeza e reclusão causado por mais uma pandemia. Não foi a primeira, e os especialistas em fim de mundo diriam, com uma pessimista certeza, que seria uma entre muitas. E eu que não sou besta, tratei de viver o que tinha pra viver, antes de morrer, sei lá se hoje, ou ontem ou amanhã, de tristeza, de felicidade ou engasgada com uma jabuticaba. É meio uma filosofia de vida: não contar com o ovo no cu da galinha, não comemorar vitória cedo, não deixar de beijar aquele moço ali que tá me olhando, só um minuto por favor, já volto.
…
Bem, onde eu estava? Ah, sim, é um texto sobre Carnaval. Ou talvez seja um sobre como sobreviver a ele. Mas, pra quem passou os últimos dois anos reclusa e sob a marquise de um governo fascista, com medo e com ataques de ansiedade, acho que não seria de todo ruim encontrar os amigos ao ar livre, fantasiada, bebendo e com sorte, dando uns beijos na bo/… peraí amiga tô aqui escrevendo um texto, doida! Já chego nesse beijo triplo aí.
Dizem que o primeiro Carnaval depois da gripe espanhola foi o Carnaval do fim do mundo. É louco pensar que mais de um século depois o apocalipse não chegou e essa festa de Baco e de alegria sobrevive, com seus foliões meio assim de cabeça, mas dispostos a expurgar a tristeza de uma época que vai passar, cantando coisas de amor, vivendo coisas de amor, sonhando coisas de amor e quem sabe, se eu der sorte hoje, até fazendo amor.
Dizem que os quarenta são os novos trinta. Talvez depois de três latões de Heineken e uma aguinha do senhor eu também me considere. As "pra lá de Balzacdá" estão surpreendendo, mas agora não que eu tenho que segurar o Estandarte do Bloco e caceta, essa merda sempre foi pesada assim?
E eu fico assim pensando aqui que eu ainda não estou velha demais. Talvez eu nunca esteja.
OLHA O PESAAAADOOOO! ABRE PRO PESADO PASSAR!
A gente deixou o pesado passar. Por dois anos. Foi difícil pra cacete empurrar essa bicicleta com desgraça no gelo. E é com o fôlego de mil foliões empurrando que a gente está conseguindo fazer essa roda girar. Porque em qualquer época, essa será a melhor época do ano. E eu posso provar.
(Mas daqui a pouco, porque agora eu só quero dançar ao negro toque do agogô).
Obrigada a todos os foliões, em especial às minhas plantinhas do Bloco das Trepadeiras, aos ambulantes Wallace e Thalita, ao Boi Tolo, e é claro, aos Deuses carnavalescos que pularam do nosso lado.