Carnaval bom é na minha época

Tatá Lopes
2 min readApr 26, 2022

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Seria um revival de início de século passado: voltávamos de um período de tristeza e reclusão causado por mais uma pandemia. Não foi a primeira, e os especialistas em fim de mundo diriam, com uma pessimista certeza, que seria uma entre muitas. E eu que não sou besta, tratei de viver o que tinha pra viver, antes de morrer, sei lá se hoje, ou ontem ou amanhã, de tristeza, de felicidade ou engasgada com uma jabuticaba. É meio uma filosofia de vida: não contar com o ovo no cu da galinha, não comemorar vitória cedo, não deixar de beijar aquele moço ali que tá me olhando, só um minuto por favor, já volto.

Bem, onde eu estava? Ah, sim, é um texto sobre Carnaval. Ou talvez seja um sobre como sobreviver a ele. Mas, pra quem passou os últimos dois anos reclusa e sob a marquise de um governo fascista, com medo e com ataques de ansiedade, acho que não seria de todo ruim encontrar os amigos ao ar livre, fantasiada, bebendo e com sorte, dando uns beijos na bo/… peraí amiga tô aqui escrevendo um texto, doida! Já chego nesse beijo triplo aí.

Dizem que o primeiro Carnaval depois da gripe espanhola foi o Carnaval do fim do mundo. É louco pensar que mais de um século depois o apocalipse não chegou e essa festa de Baco e de alegria sobrevive, com seus foliões meio assim de cabeça, mas dispostos a expurgar a tristeza de uma época que vai passar, cantando coisas de amor, vivendo coisas de amor, sonhando coisas de amor e quem sabe, se eu der sorte hoje, até fazendo amor.

Dizem que os quarenta são os novos trinta. Talvez depois de três latões de Heineken e uma aguinha do senhor eu também me considere. As "pra lá de Balzacdá" estão surpreendendo, mas agora não que eu tenho que segurar o Estandarte do Bloco e caceta, essa merda sempre foi pesada assim?

E eu fico assim pensando aqui que eu ainda não estou velha demais. Talvez eu nunca esteja.

OLHA O PESAAAADOOOO! ABRE PRO PESADO PASSAR!

A gente deixou o pesado passar. Por dois anos. Foi difícil pra cacete empurrar essa bicicleta com desgraça no gelo. E é com o fôlego de mil foliões empurrando que a gente está conseguindo fazer essa roda girar. Porque em qualquer época, essa será a melhor época do ano. E eu posso provar.

(Mas daqui a pouco, porque agora eu só quero dançar ao negro toque do agogô).

Obrigada a todos os foliões, em especial às minhas plantinhas do Bloco das Trepadeiras, aos ambulantes Wallace e Thalita, ao Boi Tolo, e é claro, aos Deuses carnavalescos que pularam do nosso lado.

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