Divã

Tatá Lopes
2 min readApr 8, 2021

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— Então… eu acho que eu tô deprimida.

— Mas por que você acha isso?

— Porque eu não tenho vontade de rir.

— Mas por que você quer rir? Você acha que tem alguma coisa possivelmente engraçada acontecendo.

— Não, não tem. Mas tem gente que tá conseguindo pelo menos esboçar um leve sorriso e eu não tô. E pior: Se eu não tô achando graça de absolutamente nada, como é que eu vou ganhar dinheiro pra te pagar, por exemplo?

— E por que você acha que você precisa fazer as pessoas rirem?

— Doutora, com todo o respeito, mas a gente tá nessa relação há pelo menos uns 4 anos e você não sabe que é de fazer as pessoas rirem que eu tiro dinheiro pra sobreviver?

— E por que você precisa tirar dinheiro disso pra sobreviver?

— Olha, eu não descarto a prostituição não, mas no meio de uma pandemia acho um pouco complicado.

— Sei… Mas me fala mais sobre essa sua sensação de depressão.

— Não é sensação não. Eu não posso afirmar com certeza. Inclusive eu tô aqui pra você me ajudar a encontrar algumas respostas, né?

— É pra isso que você está aqui?

— Doutora, na boa, eu tô começando a achar que quem é maluca é você.

— Você me acha maluca? Como é ser maluca?

— Eu não disse que você é malu/ Peraí, você tá me perguntando o que é ser maluca porque você não sabe a resposta, ou pra saber o que eu acho sobre o que é ser maluca?

— É por que eu não sei mesmo. Me conta, como é ser você? Assim, maluca? A gente tá nessa há 4 anos e a primeira vez que eu realmente tenho a oportunidade de perguntar isso pra você sem parecer eu, a maluca. Me conta: como é ser assim, maluca?

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