Nem 8 horas

Tatá Lopes
1 min readJan 5, 2022

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Nem 8 horas e o café já está pronto e amargo como um prenúncio deste dia que começará tarde para os que aproveitaram a madrugada entre lençóis e fluidos ou entre conversas que não começam nem terminam como deveriam. Culpa das bebidas etílicas ou da felicidade. Vai saber.

Nesse dia amargo que tem esperança de mudar de gosto no decorrer desses minutos eternos e desperdiçados, com certeza desperdiçados, eu tento arrumar as ideias e banir a inveja que apareceu nos meus sonhos, mas que na verdade é minha, nasceu comigo ou se criou no decorrer do tempo na minha alma. Ninguém admite. Eu sim, não tenho medo de olhar pra minha inveja e dizer: aqui você não se cria, sua puta.

Puta mentira. Ela se cria sim, mas eu não a alimento. Deixo ela no pesadelo, tento olhar pra ela no presente, mesmo que ela já esteja no sonho do sono que acordou às 8 da manhã.

Eu já quero que esse dia termine. É assim que me sinto. Pra mim, os dias não mereciam ser tão longos. O meio não me interessa. As tardes são pedaços escassos de um traço de linha de tempo. As tardes não deveriam existir. Elas só servem pra me lembrar que existe um naco de vida que eu perco. Que escapa por essa minha eterna busca por felicidade.

A minha felicidade não se encontra nem nas tardes nem nos sonhos. Ela está nas manhãs das repetições e das promessas de que a rotina não se crie.

Nem 8 horas e já estou vomitando palavras.

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